Tratamento Infantil para TDAH com o Kung Fu do Método Wushen

(Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em Crianças)

 Muito se tem dito sobre TDAH, que é um transtorno que, como o nome diz, envolve comportamentos de falta de atenção e agitação psicomotora.

É importante vasculhar um pouco sobre a etiologia do transtorno.

Sobre as causas desse transtorno, podemos evocar a estrutura familiar, traços comportamentais herdados geneticamente, dinâmica social e desnutrição. Tratemos rapidamente sobre cada um dos fatores etiológicos em questão.

  1. Estrutura Familiar: a estrutura familiar pode causar ou reforçar o TDAH quando envolve a criança em processos causadores de grande ansiedade. Assim, vemos que certas estruturas familiares são excessivamente geradoras de instabilidades e inseguranças. Notemos bem no fator “insegurança”, pois este se associa intimamente com os sintomas “agitação psicomotora” e “dificuldades em manter a atenção em algo”. Pais muito inseguros ou emocionalmente carentes podem gerar ambientes de instabilidade emocional capazes de gerar ansiedades tremendas na criança, que por sua hipersensibilidade, transmite tudo isso através de “comportamentos volúveis”, carecidos de firmeza e foco. O processo de divórcio entre os pais contribui como um dos principais fatores etiológicos nesse transtorno.
  2. Traços Comportamentais Herdados Geneticamente: existem certos traços comportamentais que se associam claramente a heranças dos antepassados. Estas tendências comportamentais podem auxiliar no estabelecimento do TDAH. Podemos citar, por exemplo, certos traços “paranóides”, capazes de gerar sempre um estado de insegurança, onde a criança pode se sentir perseguida, ou mesmo impelida a realizar tarefas impossíveis, como um Dom Quixote de La Mancha. Este personagem representa o comportamento errante e agitado por preocupações impossíveis capazes de sempre tirar seu foco da realidade do que se apresenta ante ele.
  3. Dinâmica Social: o TDAH vem sendo cada vez mais diagnosticado dentre as crianças, e a tendência é aumentar cada vez mais, diante da dinâmica social altamente pautada pela velocidade dos processos mentais e pelo excesso de informações. As crianças estão cada vez menos capazes de se aprofundar em reflexões pontuais sobre os fatos da vida, estão sempre impelidas a realizarem os anseios de “sucesso” exigidos pelos pais e pela sociedade, estão sempre procurando mais e mais informações que preencham seus vazios existenciais. Assim, as informações vem e vão, perdendo-se logo o interesse pelas mesmas. O resultado é uma “incapacidade essencial” em manterem o foco em atividades simples do cotidiano. Dizemos de uma “incapacidade essencial” porque trata de uma incapacidade ligada a falta de “aparelho cognitivo” para executar a atenção, como alguém que não consegue bater palmas por não ter mãos. Mas no caso do TDAH, por se tratar de uma disfunção psicológica, mediante educação especial, pode haver o desenvolvimento de um aparelho cognitivo capaz de gerar a atenção numa só atividade.
  4. Desnutrição: este aspecto é muito pouco considerado pela psicopedagogia contemporânea, muito embora seja considerado pelos povos da Antiguidade, e pelas pessoas simples que são capazes de observar. É notório que as crianças se apresentam mais agitadas quando estão com fome do que quando estão satisfeitas. Fisiologicamente falando, temos certos centros nervosos no Hipotálamo, responsáveis por acessar comportamentos instintivos, tais como os sexuais, ligados a sobrevivência ante as agressões externas, a fome e sede. Logicamente que os seres humanos se agitam ante a fome, procurando instintivamente formas de eliminá-la. Isso o sabe por intuição qualquer professor experiente em educação infantil. Já a Medicina Tradicional Chinesa considera que a desnutrição pode causar uma agitação da vitalidade (conceituada como “Qi” em língua chinesa), por fraqueza substancial no Sangue (Xue). O “Qi” agitado poderia auxiliar no processo de agitação psicomotora e na baixa de atenção. Não é por acaso que todo grande médico clínico, como famoso Dr. Zan Mustachi, consideram a desnutrição como um importante fator etiológico para a decadência em nosso sistema educacional, pois se sabe que criança desnutrida não se concentra nem consegue se acalmar. A desnutrição só se torna fator de apatia comportamental quando muito aprofundada.

Embora seja difícil tratar o TDAH por razões familiares o Kung Fu pode auxiliar no tratamento, ajudando a criança a valorizar a seus pais através do reconhecimento de um sistema de hierarquia, e da importância da figura de autoridade por parte do professor ou professora de Arte Marcial.

Muito embora muitos pais fiquem inseguros quando a figura de autoridade dos professores e professoras é valorizada por seus filhos, se tal insegurança for ultrapassada, perceberão claramente que tal relação aluno-professor reverberará inevitavelmente na relação filho-pais dentro do lar.

Paralelamente a isso, temos que a prática marcial é capaz de auxiliar no processo de segurança íntima da criança ante as situações adversas da vida, e assim, os desequilíbrios dentro do lar podem ser amenizados dentro da psicologia particular da criança.

Com relação aos traços comportamentais herdados, temos que estes podem ser contornados pela prática marcial, no instante em que a criança é levada a se relacionar com outras crianças e professores, em atividades concretas que levam a criança a se adaptar a contextos diferentes de relacionamento. Por exemplo, temos técnicas em duplas, onde a criança deve se relacionar fisicamente com outras crianças, vendo seus limites físicos, suas diferenças no desenvolvimento em vários aspectos, lidando também com suas reações emocionais mecânicas, como insegurança, ira, medo, etc.

Com relação à dinâmica social, temos que o ambiente para a prática marcial exige: concentração, ordem, atenção, foco, pois do contrário, torna-se inviável sua prática. Dentro do ambiente de treinamento marcial autêntico difundido pelo Método Wushen de Kung Fu, prezamos pela ordem, limpeza e harmonia, propiciando um treinamento da Consciência do praticante na atividade que está praticando, no pensamento e nas emoções que lhe ocorrem, e dessa forma, com tal treinamento, espera-se que o mesmo adquira a capacidade de se concentrar em qualquer circunstância da vida, por caótica que seja.

Quanto antes a criança passe por tal treinamento, melhor será sua concentração. Estamos convictos de que no ambiente cultural que vivemos nos dias atuais, onde se preza pelo excesso de informações, “sucessos acadêmicos” e baixíssimo nível de experimentação profunda dos elementos culturais, torna-se cada vez mais impossível o pensamento claro e focado.

Os métodos marciais que prezam inicialmente pelo foco em um só ponto (socos e chutes com bases estáticas e dinâmicas), posteriormente pelo foco em pontos diversos (simulação de luta em raquetes, luvas de foco e aparadores de chutes), e mais adiante, em exercícios de dupla e lutas propriamente ditas, todos auxiliam para que a criança focalize sua atenção naturalmente onde necessite focalizá-la.

Por fim, no que tange ao fator nutricional, não podemos contribuir na parte alimentar via oral, mas podemos contribuir com o treinamento respiratório, que propicia, pelo aumento dos níveis de oxigênio no sangue, capacita o corpo a um melhor funcionamento cardiorrespiratório, e consequentemente, a um melhor processo respiratório. Temos também pela elevação do nível de oxigênio no sangue, uma melhor captação de ferro no sangue, já que este processo necessita do oxigênio para ser consolidado. Aumenta-se também a oxigenação cerebral, tornando mais claros os processos mentais.

Pelo fato de os exercícios em Arte Marcial Chinesa se consolidarem em cima da Medicina Tradicional Chinesa, verificamos que certas zonas do corpo relacionadas à potencialização dos processos digestivos via Baço, Estômago e Fígado, são acessadas, provocando benefícios parecidos com aqueles verificados através de seções de Acupuntura. Assim, percebe-se um melhor trabalho de assimilação e transformação metabólica via sistema digestivo.

Assim é como o Kung Fu do Método Wushen e sua Psicopedagogia Marcial pode auxiliar no tratamento do TDAH (Transtorno  de Déficit de Atenção e Hiperatividade).

Escrito por: Laoshi Guilherme Gontijo – Professor e Psicólogo Responsável pelo Departamento de Psicopedagogia